Ele sempre foi magro.
Nunca teve que se preocupar com sobrepeso.
Era do tipo criança
que tinha um cabeção e o corpo bem sequito.
Mas os anos chegaram,
assim como os waffles, a nutella (ah, a nutella....), o bacon e o sempre
parceiro leite condensado.
Aos poucos os quilos
foram aparecendo aqui, alí. Nas ancas, nas coxas, na bochecha.
Nas bochecha?
Nas bochecha! A coisa
foi seguindo o curso de um rio perigoso e cada vez mais feroz.
Mas como parar essa
água que vem com velocidade? Força da natureza destrutiva e violenta. Isso tem
nome: fome...ou melhor, gordice! Ou avareza. Ou safadeza mesmo!
Dizem que peso na
consciência é como um cachorro bravo. Ladra, mas não morde.
Mesmo assim decidiu
tomar uma decisão.
"Vou correr na
praia", ele disse. E ninguém o ameaçava com uma .40 ou uma faca guinsu
quando disse isso.
Botou aquela camiseta
das últimas eleições, uma bermuda com aquela cueca interna desnecessária, tirou
as meias do Corinthians e pôs uma do tipo soquete de cada cor (quando você
começar a lavar as suas roupas reparará que meias somem), e, por fim o tênis de
cor bem chamativa.
"Estou
pronto!", disse ele em frente ao espelho. Claro que não estava.
Começou uma caminhada bem
tranquila, sem forçar. Preferiu não se alongar. Afinal de contas bem em sua
frente um velho de uns 134 anos se contorcia todo, parecendo uma minhoquinha
yumi e ele mal conseguia amarrar os cadarços sem perder um pouco do ar.
Dez minutos de
caminhada e tudo parecia bem. Pouco suava e os pés ainda não doíam.
Tinha pouca
experiência no pedestrianismo. Não sabia muito bem como se portar naquele ambiente.
Decidiu ser amistoso, mas exagerou na educação ao saudar todo e qualquer ser
humano que passava correndo. Olhares de estranheza e reprovação foram
devolvidos. Melhor parar.
A confiança cresceu.
"Por que não aumentar o ritmo?". Pois aumentou. Um leve trote que o
fez perceber que sua barriga (maldita!) movimentava mais do que o normal.
36 segundos de corrida
e ele começou a apresentar sintomas incomuns. O joelho direito doía o esquerdo
não mais sentia. O coração saltava. "isso é saúde?".
As coxas queimavam,
pareciam que iam derreter.
"Meu deus, será
que estou tão fora de forma assim?". Claro que estava! Idiota! Os últimos sete
anos foram baseados e comer fora de hora, jogar The Sims e desejar a morte à
quem come coxinha dentro do ônibus.
"Eu consigo
correr por mais tempo", ele pensou.
Logo começou a
enxergar uma forte luz no final da rua. Rapidamente ela crescia. Um carro? Uma
moto? Um E.T?
O tempo então pareceu
parar. Não mais sentia qualquer incômodo da corrida. Na verdade não sentia mais
nada. Parecia levitar. O som desapareceu. Seria o tal efeito gerado pela
endorfina liberada pela prática esportiva? Que sensação incrível! Realmente
correr faz bem. Nunca tinha se sentido tão relaxado. Isso é o paraíso! Mamãe,
olhe para mim...estou correndo! Estou emagrecendo...
(...)
A Dona Leda estava
sentada na frente de casa, como sempre faz todo final de tarde, quando viu o
jovem alto, bonito, mas com uns pneuzinhos nada comprometedores
"correndo".
Como se estivesse em
câmera lenta acompanhou o tal jovem perder os sentidos e se espatifar no chão.
Tudo isso, sentadinha em sua cadeira de praia e comendo pinhão.
Chegou mais perto para
avaliar a situação e viu que tinha sangue, muito sangue.
Achou ter visto um
dente frontal quebrado, mas não teve certeza.
A bermuda estava
rasgada e pôde perceber que o garoto estava sem roupa de baixo. Acho que a
cueca interna da bermuda seria suficiente para cobri-lo. Pois não foi.
"Alô? 192? Manda
uma ambulância aqui na Barão de Penedo? É, o rapaz do 1206 decidiu correr de
novo..."
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