terça-feira, 24 de março de 2009

Das cuecas para a mesa







Como dizem na linguagem popular, “é duelo de gente grande”. Unhas roídas, nervos a flor da pele, torcida apreensiva, dois comandantes e seus esquadrões em campo. Tudo pronto para a bola rolar em mais uma partida de futebol... de mesa! Isso mesmo, e é literalmente um jogo de gente grande.
Para muitos o futebol de mesa, conhecido popularmente como futebol de botão – para desespero de qualquer botonista que se preze – é apenas um passatempo das crianças de antigamente. Mas se engana quem tem, ainda, essa idéia.
Será possível chamar de brincadeira de criança um esporte – isso mesmo, esporte regulamentado – que possui uma federação estadual, uma confederação nacional e uma internacional, com calendário mundial definido, mais de 30 clubes em todo planeta disputando competições? A coisa é mais séria do que parece.
Fábio Bolla, jornalista de 35 anos, casado, dois filhos é um dos muitos amantes do futebol de mesa no Brasil. A paixão começou logo cedo, aos cinco anos de idade por conta da semelhança com o futebol. “O fato de você poder comandar seus jogadores preferidos dentro de campo mexe com a imaginação de qualquer torcedor”, explica. Atualmente Bolla possui 44 times em condições de jogo, mas no total esse número aumenta e muito. “Se contar os botões que compro em bancas de jornal e em lojas de esporte, são 532 times”.
Ele confessa que fica um pouco chateado quando as pessoas consideram este esporte como um simples passatempo infantil. “Talvez essas pessoas não saibam da estrutura que existe atrás disso tudo, mas cada um pensa o que quer”.
Bolla ressalta, ainda, os benefícios que o esporte em geral trás para as crianças, comparado aos jogos eletrônicos. “Na prática esportiva a criança desenvolve as relações entre os competidores, aprende a ganhar ou perder de uma pessoa, e não de uma máquina”, analisa.
Como federado e disputando competições oficiais há 20 anos, Bolla já teve grandes vitórias e derrotas na carreira, como qualquer treinador de futebol. Na pior delas, perdeu por 11x2 pelo campeonato paulista de equipes em 2005. “Nada deu certo naquele jogo”. Já o maior triunfo foi pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro individual de 2006. “Joguei contra o Robertinho do Santos, que já foi duas vezes campeão brasileiro individual. Venci por 4x3 com um gol no sinal de encerramento. A bola entrou no gol dele e a campainha tocou”, conta o orgulhoso Bolla, que, atualmente, atua na categoria Adulto Principal.
E como se tornar um campeão neste esporte? A rotina de Fábio Bolla é intensa e levada muito a sério, com treinos duas vezes por semana durante 5 horas e competições nos finais de semana. A estante de troféus está recheada, com mais de vinte títulos (por equipes e individuais) e convocações para as seleções paulista e brasileira.
Durante os campeonatos – são disputadas mais de dez competições durante o ano – são reunidas agremiações do país inteiro, além das equipes estrangeiras em competições internacionais. A relação entre os jogadores, hoje em dia, é bem amistosa e há certo companheirismo, mas nem sempre foi assim. “Antes o bicho pegava nas competições, agora já existe bem mais amizade entre os botonistas”.
A exemplo de todo jogador/treinador, Bolla também tem sua referência no esporte. Seu ídolo é João Luis Gil, o primeiro campeão brasileiro da história do esporte, companheiro de equipe na Sociedade Esportiva Palmeiras – seu time do coração - e um de seus maiores incentivadores. Mas e Geraldo Decourt, criador do Futebol de Mesa? “Ele é o pai do Futebol de Mesa, mas não cheguei a vê-lo jogar. Uma pena!”, lamente Bolla. Decourt inventou o futebol de botão em 1930, quando usava botões das cuecas e das calças de seu uniforme escolar - e Gil, como é mais conhecido, já parou de jogar. Inclusive o então governador do estado de São Paulo decretou, no ano de 2006, o dia 14 de outubro (data de nascimento de Geraldo Decourt) como o dia do botonista.
Mesmo sendo considerado um esporte, - regulamentado através da Resolução N.º14, de 29 de setembro de 1988, reconhecendo o Futebol de Mesa como modalidade desportiva - a prática ainda não é profissional no Brasil, o que faz com que seus praticantes sejam “obrigados” a cometer algumas ousadias. Bolla foi longe com uma dessas loucuras. “Acredito que viajar para a Hungria para o Campeonato Mundial de Seleções durante o mês de maio foi a maior delas, pois todas as minhas obrigações profissionais estavam no Brasil. Foram férias forçadas”, revela.
Mas e os familiares, o que acham de todo este envolvimento com o futebol de Mesa? Bolla conta que a família aprendeu a gostar e o apoiar nas competições e que se o impedissem de jogar, a coisa seria pior para todos. “Mesmo assim minha mulher ainda faz um pouco de cara feia quando aviso das competições longas de quatro ou cinco dias que são disputadas fora de São Paulo”.
Quem acabou sendo influenciado pelo gosto do pai foi o filho mais novo, de apenas cinco anos, e, segundo Bolla, com um futuro promissor no esporte. Mas na hora das partidas me casa, é cada um por si. “Ele tem os times, a caixinha, os goleiros e palhetas dele. Tudo separado dos meus”. E enquanto pai e filho ficam disputando partidas acaloradas na sala, a mulher da casa vai para o quarto e deixa os dois “brincando”.
Para os iniciantes, a dica é procurar clubes ou grupos que promovam competições e praticar bastante. O preço dos materiais não é muito elevado, mas requer um certo investimento. Em Santos o Clube 2004 e o próprio Santos F.C possuem times de futebol de mesa.
Bolla revela seu time favorito, aquele que gosta de usar em jogos especiais. Desde 2006 a seleção da França é seu número um. O esquadrão é formado por Barthez, Sagnol, Gallas, Thuram, Viera, Makelele, Zidane, Malouda, Ribery, Govou, Wiltord e Henry.
“E o Ronaldo Fenômeno, teria lugar nesta equipe?”, pergunta este corintiano jornalista ao palmeirense botonista. “Não, quero que o Ronaldo vá para...”. Bom, melhor deixar esta última pergunta sem resposta.

2 comentários:

legow disse...

Homem que é Homem, joga botão, e tem um bom reporter pra relatar. tudo de bommmmmmmm mesmo. tina

John.st@r disse...

Truco!! Xeque-MaTe!