quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Contagem regressiva



Está lançado o desafio! Escrever uma boa história em 20 estações.

_ Estações do ano? – deve estar se perguntando o leitor.

Na verdade me refiro as estações do metrô. Isso mesmo! Hoje em dia muitas pessoas utilizam esta nova medida de tempo, mesmo que de forma inconsciente. Bom, chega de chorumelas e vamos à história.

***

Depois de dois copos de suco de laranja natual e trÊs caríssimos pasteis de queijo, Carlos não via a hora de chegar em casa. A natureza demonstrava os primeiros sinais – olfativos e sonoros – de que o resultado desta “refeição, ou melhor, combinação explosiva, teria um fim trágico, com requintes de crueldade.

Baixinho, quase sussurrando, Carlos repetia insistentemente uma frase, uase um mantra, para si mesmo.

_ Cinco estações. São só cinco. Eu tenho que agüentar!


Carlos lutava bravamente, como um gladiador dos tempos antigos. Um duelo mortal contra seu próprio corpo.

_ Quatro! Agora só quatro!


Gotas de suor escorrem do rosto, as pupilas dilatadas e a boca trêmula está praticamente seca...

_ Só mais trêêêês...


As pernas demonstravam sinais de fraqueza e o rosto pálido começava a ser notado pelos outros passageiros. Diante desta situação, ofereciam ajuda, mas Carlos já não ouvia e enxergava mais nada. Concentrava todas as suas forças para evitar que o “parto” não acontecesse logo ali, no meio de todos.

_ Duas! Duas! Duas! Duas! Duas! Duas! Du-“ai”-as!


Nesta hora ele tinha deixado para trás os sussurros e gritava como um louco. Os passageiros começaram a bater palmas e ensaiar gritos de “é campeão”, reconhecendo sua bravura.

Neste momento fecham-se as portas e o trem começa a sua última arrancada, rumo ao ponto final. Para Carlos, aquela seria sua glória eterna. Teria seu nome conhecido nos quatro cantos do mundo, crianças seguiriam seus passos, mulheres teriam calcinhas com seu rosto estampado, homens batizariam seus filhos com o seu nome.

Mas a luta ainda não tinha terminado, e Carlos já não sabia direito onde estava e emitia sons que faziam os outros passageiros acharem que ele estivesse falando em uma língua estrangeira.

_ Ele está falando em Inglês – disse o menino que vendia balas.

_ Não, é francês! – retrucou a simpática senhora que enxugava o rosto de Carlos com um lindo lenço de linho branco.


O bêbado de plantão começou a gritar.

_ Afastem-se! Eu falo a língua dele.


Porém, a menina bonita vestida de branco, sentada no fundo do vagão, sem pretensão ou maldade nenhuma, pois tudo a perder.

_ Desencana disso, gente. – foi o que ela disse.


DESENCANA!

Aquilo foi demais para Carlos e o pior aconteceu. Um início de confusão causou pânico entre os passageiros.

Os vidros começaram a serem abertos e as portas foram forçadas. O cheiro era insuportável e algumas crianças choravam e outras perguntavam aos seus pais.

_ Isto é o fim do mundo? Não seria só em 2012?


Um senhor aposentado da marinha acionou os freios de emergência e começou a desembarcar, nas suas palavras, a tripulação.

_ Mulheres e crianças primeiro! Chamem os médicos!


Aos poucos o trem foi se esvaziando e só sobrou Carlos deitado no chão, talvez inconsciente.

A polícia chegou e cercou o perímetro. As pessoas foram evacuadas da área e uma equipe de combate a vazamentos radioativos de Angra dos Reis chegou ao local.

Carlos foi colocado dentro de um grande cubo transparente, completamente vedado, para evitar contaminação no ambiente.

Na saída, todos estavam cabisbaixos. Ao fundo, se ouvia uma voz trêmula agonizante.

_ Uma! Só faltava uma!


Pobre Carlos...

3 comentários:

legow disse...

e ai cagao? valeu,esses povo bem que mereceram. tininha

Unknown disse...

Gui... essa foi a melhor.

lotavioss disse...

rsrsrsrsrsss... tá ficando muito interessante e legal de ler. Não conhecia essa tua veia (cuidado, não é vééééia de velho)literária.