Velha infância

É inevitável. Já aconteceu com você, com algum primo ou amigo seu já aconteceu, inclusive, comigo! Enfim, já aconteceu com todo mundo, mas o mundo todo nega.

Quando crianças, inevitavelmente, passamos por situações que nos farão sentir vergonha, remorso ou indignação; ou os três juntos.

Claro que se fizermos uma pesquisa sem compromisso pelas ruas, todos vão dizer que a infância é a melhor fase da vida, que gostariam de se tornarem crianças novamente, pois esta seria “a época em que não há preocupação alguma e o que importa é se divertir”.

A nossa mente tem este poder, de só nos fazer lembrar as coisas boas, contudo ela pode ser cruelmente traiçoeira. Mas a vida não era feita só de leite batido, bisnaguinha com requeijão, esconde-esconde e Rá-Tim-Bum. Certas situações, comportamentos ou brincadeiras da nossa infância refletem no nosso dia a dia e na conta do analista.

Um conhecido meu, por exemplo, gostava de brincar de bonecas.

_ “Agora o Ken vai levar a Barbie para viajar no super trailer”, dizia ele.

Imagino esta essoa tendo que revelar este passado obscuramente rosa para a futura esposa.


_ Meu bem, preciso te contar algo sobre meu passado.
_ Diga, querido.
_ Eu brincava de boneca quando criança.
_ Como assim? Tipo com suas primas? Brincava com as bonecas das suas primas?
_ Não, elas brincavam com as minhas.
_ César Augusto!!!


(***)

Ou então este outro caso em que o amigo de um amigo meu colecionava papel de carta. Ele tinha pastas e mais pastas com uma variedade infinita de modelos, cores, formatos e aromas. A coisa era tão séria que a mãe dele quem organizava tudo e decidia qual papel de carta e com que ele poderia trocar.

_ Olha, filho. Você hoje vai na casa da Patrícia para trocas esses daqui, ó.
_ Mas mãe, não quero trocar os do Ursinho!
_ Mas meu querido, você já tem muitos desse. Tem que pegar novos
_ EU NÃO QUERO TROCAR MEUS URSINHO AMARELOS. SÃO TODOS MEUS!!!

(***)

Já uma conhecida minha tinha a mania de, quando pequena, beijar todos os meninos do jardim de infância – por favor, não levem para o lado maldoso, era pura ingenuidade da menina.

Até aí, nada demais. O problema era que ela costumava tirar a roupa e sair correndo depois das bitocas distribuídas. Com tão pouca idade fica difícil dizer que era safadeza, mas este tipo de atitude já causou diversos nos relacionamentos dela.
Uma dessas situações aconteceu durante o próprio aniversário de 15 anos. Ela, vestida de azul celeste e muito bem maquiada, assim como outras 14 colegas, deu o seu primeiro beijo.

_ Você é muito bonita.
_ Obrigada!
_ Posso te beijar?
_ Sim.

Sete segundos depois...

_ E aí?
_ Foi bom!
_ Quer ajuda com o vestido?
_ Como assim?
_ Acho melhor tirar antes de você sair correndo. Vai se você se machuca.
_ Aaaiiiii de mim....

Coitada