“Qual o seu pedido?”

Eles nunca se falavam, não sabiam se o outro era compromissado nem mesmo o nome do outro, mas sabiam de cor o pedido favorito na lanchonete mais famosa da cidade.
E por um desses acasos que acontecem na vida, um dia os dois ficaram lado a lado no balcão de lanches.
Ele, calça xadrez e camiseta branca. Ela, calça skiny, óculos de acetato, cabelo preto de franginha e uma bata que era uma beleza. A conversa foi inevitável.

- Pediu o n° 2?
- O que?
- O n° 2, foi esse que você pediu?
- Sim. Como você sabia?
- Ah, sempre vejo você por aqui e reparei que sempre pede este lanche.
- Hahaha..., é verdade. Não consigo pedir outra coisa, é um vício.

Neste momento o clima de tensão entre os dois já havia passado.

- Se bem que na semana passada você pediu o n° 5.
- É.
- Com o acompanhamento do n° 1.
- Isso.
- Mais a bebida e a sobremesa do n° 6.
- Estava passando por um momento difícil.
- Desculpe, não queria me intrometer.
- Não, tudo bem. É que tinha acabado de terminar um namoro.
- Uhm...
- Pois é!
- Pois é!

Volta o constrangimento e um silêncio constrangedor.

- Mas e você, não vai pedir o n° 4? Você sempre pede ele aos domingos.
- Bem, hoje é uma ocasião especial.
- Sério? Qual?
- Acabei de me formar na faculdade.
- Não brinca?! E porque não saiu com os amigos para beber, comer algo, essas coisas?
- Você não quer saber.
- Claro que quero.
- Não!
- Conte!
- Melhor eu...
- CONTE!

O grito da garota foi inesperado, talvez a intensidade um pouco exagerada. O rapaz, não encontrando nenhuma fuga para a situação, confessou.

- É porque queria te ver.

A garota ficou sem palavras. Ele também.
Alguns segundos depois ela criou coragem e disse.

- Que tal cancelarmos os lanches e dividirmos um n° 8?
- Com a sobremesa do n° 6?
- Fechado!
- Antes que eu me esqueça, qual seu nome mesmo?

Ela, com um olhar maroto no rosto...

- Me chame de a menina do pedido n° 2.